Neste ano de 2021 a família franciscana e toda a Igreja celebram os 800 anos da Regra canônica Memoriale Propositi, aprovada pelo papa Honório III e confirmada pelo Papa Gregório IX em 20 de maio de 1221 com destinação aos que fazem penitência. É neste mesmo contexto que recordamos as Cartas de São Francisco de Assis aos Fiéis, marcos do nascimento da Terceira Ordem Franciscana, que vivencia este jubileu com o tema: “De Assis a Canindé: memória, compromisso e esperança” e o lema: “Do evangelho à vida e da vida ao Evangelho”.
O Papa Francisco diz que “a memória
cristã é como o sal da vida. Sem memória não podemos ir para frente. Quando
encontramos cristãos ‘desmemoriados’, logo vemos que perderam o sabor da vida
cristã e acabaram como pessoas que cumprem os mandamentos, mas sem a mística,
sem encontrar Jesus Cristo”.
De fato, para nós cristãos, fazer memória é algo
sagrado. Vivemos do memorial da obra da nossa redenção realizada por Cristo.
Essa memória se faz atualização e participação por obra do Espírito Santo que
gera vida em nós. Vivemos da memória que fazemos. Isso não significa que nós
vivemos presos em um passado perdido, nem que não reconhecemos o nosso chão de
hoje. É precisamente o contrário. Conhecemos o nosso chão de hoje e podemos ir para
frente à medida que somos capazes de fazer memória.
A memória cristã é ímpeto de compromisso com o
hoje e de esperança no amanhã. É saudável para as fraternidades e comunidades
franciscanas recordar (trazer ao coração), tanto as inspirações embrionárias do
Carisma quanto o ardor dos que, antes de nós, viveram suas vidas
franciscanamente nesta querida Amazônia. Isso nos permite perceber que não
estamos sozinhos, que somos parte de uma história que não começou e não
terminará conosco, fazemos parte “de uma imensa vida”.
Olhar para o ontem com os pés firmes no hoje nos
faz sonhar o amanhã. É na memória fecunda que Deus semeia a virtude da
esperança. E sobre esta virtude, nos diz o Papa Francisco: “A esperança é
ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças
e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que
tornam a vida mais bela e digna. Caminhemos na esperança!” (Fratelli
Tutti, n. 55). A esperança cristã não é uma espera passiva de que um dia
algo melhore, algo aconteça, alguém surja, mas é a ativa construção de uma
realidade nova.
Sem esperança não há sentido fazer memória ou escrever sobre nossa história. A esperança é o motor da atualização daquele ideal que inspirou Francisco e Clara de Assis do século XIII; que inspira Francisco da Laudato Si’ e Fratelli Tutti do século XXI. Que ao folhear estas páginas memoriais, cada um de nós possa entrar nesta torrente de esperança e que, juntos e juntas, possamos esperançar uma Amazônia, um Pará e Amapá mais fraterno, mais ecológico, mais humano, ao modo dos santos de Assis. Nisto consiste nosso compromisso!
A reunião dos breves relatos de nossas
Fraternidades da Ordem Terceira, com suas diversidades, representa o desejo
vivo de fortalecer nossa unidade. Entre a TOR, a OFS e a JUFRA há uma genética
familiar, uma comunhão vital que nos convida a mantermo-nos de mãos dadas em
todos os aspectos de nossas vidas, sobretudo na Assistência Espiritual,
Animação Fraterna e Promoção vocacional. Revisitar a contribuição dos irmãos e
irmãs que nos precederam é motivo de louvor e gratidão, compromisso e ponto de
partida que não podemos perder de vista. Como é o caso da Carta aos Fiéis:
Todos os que amam o Senhor, “de todo o coração, de toda alma e de toda a mente, com todas as suas forças” (Mc 12,30) “e amam o seu próximo como a si mesmos” (Mt 22,29), e odeiam o próprio corpo com seus vícios e pecados, e que recebem o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, e fazem dignos frutos de penitência: quão felizes são estes e estas que assim agirem e perseverarem até o fim, porque “sobre eles repousa o Espírito do Senhor” (Is 11,2) e ele fará neles sua habitação e a sua “morada” (Jo 14,23), e eles são filhos do Pai celestial (Mt 5,45); cujas obras fazem e são esposos, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus Cristo (Mt 12,50). (1 FI, Capítulo 1)
Este texto aos fiéis é parte dos rastros
cronológicos, apresentados nesta edição, que nos ajudam no exercício
memorialístico e nos provocam ao encontro com a vida dos Santos e Santas da
Ordem Seráfica, bem como, nos disponibilizam o conhecimento de tantos leigos e
leigas, religiosos e religiosas, diáconos, presbíteros, bispos e papas que
doaram sua vida pelo Reino na vivência da Santa Regra Franciscana, que seu
testemunho nos ajude a perseverar no caminho da perfeição da caridade cristã.
Gratidão às
Fraternidades da OFS e JUFRA, e às Congregações da TOR presentes no Pará e
Amapá. E de um modo especial, ao Conselho Regional da OFS e a Coordenação da
CFFB Norte 2 que animou diversas atividades para nosso Jubileu dos 800 anos,
organizou uma equipe que se doou para preparar o presente material: Antônia
Lais Chagas e Cleicilene Silva (JUFRA); Francisco Araújo, Alexandre Souza e
Jucilene Caldas (OFS); Ir. Ivoneide Queiroz - Irmãs Franciscanas de Maristella
- e Ir. Ângela Moraes - Irmãs Franciscanas do Sagrado Coração (Congregações da
TOR). Que seu trabalho seja como o do agricultor que semeou; o de cada leitor,
como o daquele que regou, para que Deus possa fazer crescer.
Desejamos um abençoado jubileu e uma santa
caminhada, fazendo memória com compromisso e viva esperança na Igreja e
Sociedade!
Paz e Bem!
Victor Paiva, OFS
Historiador, membro da equipe de Formação
Fraternidade São Francisco de Assis,
Coordenação da CFFB N2 – Núcleo Castanhal
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